Lá fora estava escuro, borriçava constantemente, até diziam que a chuva era de "molha parvos". Cá dentro o ambiente estava pesado, haviam gritos por todo o lado e atrás desses gritos, vinha medo, fúria, exaltação. Baixei a cabeça, agarrando-a com as duas mãos. De seguida, fechei os olhos e tentei afastar o meu pensamento, mas nele só passavam gritos de horror, cada vez mais altos. Era como se o mundo fosse acabar naquele preciso momento e estivessem todos a exprimir o que deixaram por exprimir. Até eu começava a ficar com medo, não deles, mas dos seus gritos. Só me apetecia levantar-me daquela cadeira na qual permanecia sentada já à alguns minutos e começar também a gritar, mas não era um grito qualquer, era um grito definitivo. Um grito que os fizesse entender que não era o fim do mundo, era apenas um contra-tempo e sobretudo, que ainda têm muito para viver, para descobrir, para fazer, para sentir.
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